Bonito (MS) – O grupo “Paraicano” (Paraibano e Pernambucano) Camboi prepara uma grande festa para o cortejo de abertura do 19º Festival de Inverno de Bonito. A oficina de preparação para o cortejo mostra toda esta animação dos participantes, que manifestaram na manhã desta segunda-feira, no Galpão Chama Bonito, muita vontade de aprender toda a técnica e conhecimento trazido pelo Camboi.
No cortejo será apresentado o folguedo conhecido como Cavalo Marinho, transmitido há mais de cem anos pelos mestres pernambucanos e paraibanos. A tradição surgiu devido a um senhor de engenho, chamado Marinho, que sempre andava com seu cavalo, e quando chegava, “acabava” com a brincadeira das crianças, por ser muito temido.
O folguedo constitui-se de teatro, música e dança. A dança com o “bater pisado” (o aquecimento) e o “bater mergulhão” (um desafio para ver quem desenvolve melhor os passos); a música com os instrumentos fabricados pelos próprios participantes, como a rabeca, o pandeiro, o ganzá e o bage de taboca, e o teatro, com a encenação das 76 “figuras”, que são personagens que existiram na região, representados por máscaras, além de animais, como o boi.
Em Pernambuco e na Paraíba, o Cavalo Marinho acontece de 10 de julho a 6 de janeiro, geralmente em festas religiosas da Igreja Católica, começa no fim da tarde e só termina na manhã do dia seguinte. “São cerca de 12 horas de brincadeira, em que é testada a resistência dos participantes. Depois do dia 6 de janeiro, em que é comemorado o Dia de Santo Rei do Oriente, os integrantes queimam todo o material e no ano seguinte, fazem tudo de novo”, explica Glício Lee, um dos integrantes do grupo.
O Camboi traz toda esta experiência e tradição para o cortejo de abertura do FIB 2018. Os três integrantes que vieram para Bonito, Glício Lee, Marquinhos Silva e William Pimentel, explicam os passos para os participantes da oficina, que vão integrar o cortejo na abertura na próxima quinta-feira (26.07). A oficina começou nesta segunda e vai até quarta-feira. No período da manhã são ministrados os principais passos, e à tarde, os participantes aprendem a confeccionar o arco, que vai ser usado nas encenações.
“Camboi” é uma expressão que veio dos populares, que quando viam os folguedos diziam que era um “comboio de várias pessoas que estão fazendo alguma coisa”. O grupo leva a tradição das cidades de Pedra de Fogo (PB) e Itambé (PE), cidades que fazem fronteira entre os dois Estados, para todo o Brasil. Eles recebem orientação de vários mestres, entre ele o Mestre Araújo, com 96 anos. “Nós vivemos desde pequenos no mundo da cultura popular; fomos nascidos dentro da brincadeira, com os mestres. Para nós é gratificante trazer isto para o Festival”, afirma Glício Lee, em nome do grupo.
A maioria dos participantes da oficina são acadêmicos do Curso de Artes Cênicas da UEMS, que vieram de Campo Grande especialmente para o cortejo. “A gente já sabia que ia ser um desafio. Estamos conhecendo outras vertentes das danças brasileiras, que tem um leque extremamente amplo, tem uma gama extensa. É muito legal a gente conhecer cada vez mais, quanto mais se estuda a dança brasileira a gente fica mais apaixonado. Não tem parâmetro em nenhum lugar do mundo, é só aqui mesmo”, diz, animada, a acadêmica Jeanny Borges.
Sua colega, Marina Maura, pretende atuar em escolas e passar este conhecimento para seus futuros alunos. “Eu penso em algo novo a partir do meu corpo. Como futura docente, quero atuar na preparação do próprio aluno na escola formal, com um corpo presente ativo, mas que traz ancestralidade”.
Os integrantes do Camboi estão muito felizes em trazer sua arte e tradição de sua terra para o Festival de Inverno de Bonito. “Manifestamos toda a nossa gratidão e felicidade, estamos lisonjeados em estar aqui nesta 19ª edição do Festival. É uma experiência ímpar que vai somar muito no currículo da gente, além do que a cidade é um encanto”, finaliza Glício.
Quem quiser conferir o trabalho do grupo basta presenciar o Cortejo de Abertura Cavalo Marinho, no 19º Festival de Inverno de Bonito, na próxima quinta-feira, 26 de julho, a partir das 17 horas, na Praça da Liberdade. A animação está garantida!
Fotos: Eduardo Medeiros