Bonito (MS) – A atriz e produtora cultural Andréa Freire acredita que o II Fórum de Gestores e Dirigentes Públicos Municipais de Cultura de Mato Grosso do Sul é uma oportunidade que se entender o que é cultura a partir do que “a gente faz”, e a partir desse entendimento” que os gestores têm que ter, do poder da cultura, de como a cultura faz parte do desenvolvimento da cidade, que o Fórum trouxe isso com muita força”.
Andréa proferiu uma palestra sobre Elaboração de Projetos Culturais na manhã deste sábado, 27 de agosto de 2022, último dia do II Fórum de Gestores, realizado na Câmara Municipal de Bonito durante o 21º Festival de Inverno. Ela fez questão de ouvir depoimentos de todos os gestores participantes sobre a situação da cultura do seu município. Depois de ouvir os relatos, a produtora cultural repassou resumidamente algumas noções sobre elaboração de projetos culturais e falou sobre o poder da cultura como parte do desenvolvimento da cidade.
“É fundamental para os gestores se apoderarem deste conceito de cultura, inclusive para convencer os prefeitos, porque o poder público, a política é muito distante da cultura, então esses gestores é que são a alma, eles que vão alimentar o prefeito das informações sobre a cultura. Pensar, refletir, debater, trocar e fazer com que esse encontro de gestores possa sair daqui alimentado, nutrido, para ter condições de enfrentar esse desprezo que a própria política tem pela cultura, utiliza a cultura de forma errada, utilitária”.
Para ela, a cultura tem um potencial, a cultura está em tudo. Daí a importância de trazer esses conceitos para os gestores, “para que eles saiam daqui alimentados é muito importante, para que eles voltem para os seus municípios com estímulo, com gás para trabalhar. E, claro, buscando os instrumentos de relacionamento para aprimorar sempre esses conhecimentos. Com a Lei Paulo Gustavo agora, que vem um recurso expressivo para o nosso Estado, eles vão ter que ser instrumentalizados. Não podemos devolver os recursos, temos que usá-los”.
Em entrevista, Andréa afirmou que a Fundação de Cultura tem o papel, tem o dever de estar em pleno contato com os gestores, porque a Fundação é a “mãe que alimenta”, é a “fonte que alimenta”. E falou sobre a importância desta relação Fundação/gestores para utilizar recursos da Lei Paulo Gustavo. “Esse encontro já é uma manifestação importante, agora, neste processo da Lei Paulo Gustavo, a Fundação tem que buscar mecanismos de relacionamento para capacitar os gestores, para informá-los e para orientá-los. Vai ser tudo muito rápido, e acho que a Fundação tem condições para isso, tem que fazer um planejamento, e fazer com que todos os municípios possam, dentro de suas possibilidades, receber a Lei Paulo Gustavo”.
A produtora cultural falou da necessidade de se valorizar e preservar a cultura local, de cada município, como forma de preservar o presente para poder planejar o futuro. “A cultura nasce no lugar onde eu estou, eu não posso só reconhecer a cultura de outro lugar, de outro território se eu não reconheço a minha. Não dá para dizer que determinado lugar não tem cultura. Todo lugar tem cultura. O que acontece é que ela não é reconhecida. E os gestores primeiro têm que olhar para as suas localidades, saber onde tem movimento cultural, onde não tem, quem são as pessoas que traduzem essa cultura, que às vezes está muito além do músico, do ator de teatro. Às vezes a cultura, e aí vamos falar de cultura popular, ela está mesmo naquilo que passa de geração para geração. Os gestores têm que procurar identificar essa cultura na sua localidade, porque é ali que ele vai exercitar a sua cultura. Então essa relação de olhar, de perceber, de conversar é fundamental para que ele reconheça qual é o valor do seu município, o que singulariza esse município diante de um Mato Grosso do Sul. Ele tem que saber. Ele não precisa copiar, ele pode ter referência, mas ele tem que saber o que acontece na cultura do lugar onde ele vive. Porque a Agenda 2030, do desenvolvimento sustentável, traz aí essa ideia de que as coisas acontecem na localidade, então tem que envolver o cidadão. E aí não é esse envolvimento só no dia do aniversário trazer um grupo de fora e estar todo mundo na praça. Não, isso é diário, isso é uma conversa diária. Essa cultura às vezes está em lugares escondidos que nem o próprio gestor sabe. Então tem que olhar para o município, para história do município, para as pessoas que fazem o município. Tem que trabalhar com essa memória, olhar para esse presente para poder planejar o futuro. Porque ele vem”.
Texto: Karina Lima
Foto: Alvaro Herculano