Última atração na área da dança do Festival de Inverno de Bonito 2023, o espetáculo “O que sinto por você”, que fala sobre ancestralidade e cura, foi apresentado pela Cia do Mato no palco da Praça da Liberdade, na noite de domingo (27).
O espetáculo é resultado de um trabalho realizado com a coreógrafa mineira Rosa Antuña, que remete a aspectos da ancestralidade, de modo a evidenciar histórias enraizadas como meio de respostas para as investigações de quem somos e como existimos, enquanto indivíduos e enquanto corpo social.
Alison Nunes, bailarino e presidente da Companhia, explica que o projeto do espetáculo apresentado no Festival surge de uma ideia que surgiu a partir de uma crise interna. “A gente estava há um tempo já trabalhando com o Chico (Neller, um dos maiores profissionais da dança contemporânea de Mato Grosso do Sul e fundador da Cia do Mato) e ele vem estimulando os intérpretes criadores da companhia a sair desse lugar em que o diretor coreografa e a gente começa nesse estímulo de o próprio intérprete criar suas cenas dentro do espetáculo. Aí surge uma crise dentro da Companhia porque a gente começou a entender que o nosso repertório de movimentação é muito específico. Não conseguíamos trazer propostas novas, estímulos corporais. Aí tivemos a ideia de trazer a Rosa Antuña, que é a coreógrafa desse espetáculo, para ter uma vivência diferente com alguém que não fosse o Chico”.
“Então, a gente a chama para fazer esse espetáculo e ela traz o feminino nesse espetáculo, traz a ancestralidade, nos tira nosso lugar e estimula a gente a trazer outras movimentações, ter outras sensações e, a partir dessas experiências, foi surgindo o espetáculo. Por último, ela trouxe o nome ‘O que eu sinto por você’, e daí fica muito aberto. Ela mesmo diz que a gente pode estar falando do outro, que este você pode ser o outro como pode se referir a você mesmo”.
O bailarino fala sobre um pouco do nervosismo que surgiu pelo fato de a Companhia ter sido escolhida para fechar a participação da área da dança no Festival de Bonito. “Fechar o Festival bate um nervoso, a gente fica um pouquinho nervoso pela demanda, por ser um lugar aberto, porque a gente tem o costume de trabalhar sempre em teatros fechados, em salas fechadas, que a gente deixa mais intimista, mas a gente ir para um palco mais aberto é sempre uma experiência nova e ainda mais essa responsabilidade de ser a última atração de dança do Festival, o encerramento, então a gente estava um pouquinho nervoso, mas é mais um estímulo para a gente entregar um bom trabalho para o público que assiste a gente”.
A bailarina Ana Brindaroli explica um pouco sobre a trilha sonora do espetáculo. “A música do espetáculo não é brasileira, mas ela parece muito uma música brasileira remetendo aos nossos sons, remetendo à religião brasileira. A música é de um grupo de mulheres polonesas chamado Sutari e a rosa quis utilizá-las”.
Para ela, é sempre um desafio dançar em espaço aberto. “Mas é muito interessante também porque é um outro aspecto, uma outra abordagem, parece que o público ao mesmo tempo em que está perto ele está longe. É interessante sair um pouco dessa caixa cênica e ir para uma praça. É sempre gostoso, porém desafiador”.
A bailarina Maria Fernanda Figueiró explica que a coreógrafa Rosa Antuña trouxe para o espetáculo esse aspecto da ancestralidade, “desses signos desses corpos ancestrais dentro da narrativa que ela construiu para a Companhia, muito mais pensando nessa cura, ela falou muito de cura pelo feminino neste momento de transição do espetáculo que é quando acontece essa roda de mulheres, em que elas saem desse corpo posto da cena e passam a ter um corpo mais humanizado, mais alegre, elas começam a se conectar entre olhares e fazem de alguma forma a acontecer uma força ali para mostrar esta mudança de corpo do espetáculo da primeira parte para a segunda. E até utiliza alguns signos de pomba gira, dessa questão durante a criação este grupo a inspirou muito porque relembrou de alguns instrumentos do Nordeste, da nossa cultura nordestina, que ela se inspirou e trouxe a partir deste grupo do leste europeu que tem essa conexão com a gente”.
Chico Neller, diretor artístico da Companhia, falou um pouco sobre a história da Cia do Mato: “A Cia do Mato surge no início dos anos 1990 como cooperativa. Eu e outro coreógrafo, Diógenes Antonio Pivato, trabalhávamos no Estado inteiro com o movimento de colocar o MS no mapa, porque o MS era rota de drogas ou pecuária. E a gente trabalhava no Estado inteiro e todos os grupos com quem a gente trabalhava que ia para o maior festival de dança do país, que é o Festival de Dança de Joinville, a gente colocava a Cia do Mato, era como se fosse uma cooperativa. Daí em 1998 a gente começa a colocar a Cia do Mato nos festivais substituindo a Ginga Cia de Dança. Daí ela começa a participar dos maiores festivais de dança do país e a Ginga se retira deste cenário. Daí quando eu paro a Ginga em 2006 para ser só um lugar de formação, não ser mais com essa obrigação cênica, a Cia do Mato toma esse lugar, daí eu me retiro da direção, dou a direção para um dos bailarinos e faço só uma direção artística da companhia. E daí a companhia vem criando seus trabalhos. A Ginga tem uma história de quarenta anos e a Cia do Mato é um lugar de laboratório, onde a gente pode experimentar vários estilos, várias vertentes, talvez uma dança mais teatro, mais física”.
Na plateia, prestigiando o espetáculo a engenheira civil Marina Adriano Lona, que veio de Curitiba no Paraná para conhecer Bonito e região e aproveitou para curtir o Festival. “Eu achei maravilhoso, hoje é nosso penúltimo dia aqui e achei maravilhosa a natureza, a recepção das pessoas, o Festival, sem palavras, maravilhoso. Não conheço muito dança, tenho assistido muito pouco, mas o espetáculo que eu assisti hoje, assim como o que eu assisti ontem também, achei maravilhoso, de altíssima qualidade, os bailarinos maravilhosos, foi muito bom estar aqui”.
A arquiteta e urbanista Silmara Jacques Neves, moradora de Bonito, gostou da programação deste ano do FIB. “O Festival está bem legal, tem bastante coisa interessante. Eu gosto de dança e tenho uma amiga que estava se apresentando então eu vim apreciar. Tanto esse como vários outros espetáculos eu achei muito intenso, ficou bem legal”.
Adolfo Bitencourt, tatuador, veio de Campo Grande para curtir o Festival: “É minha primeira vez no Festival, foi bem legal, está bem interessante e as atrações estão correspondendo à minha expectativa. Este espetáculo especificamente eu já conhecia lá de Campo Grande, já tinha visto algumas vezes, acho que é a quarta ou quinta vez que eu vejo e sempre é maravilhoso e sempre é como se fosse a primeira vez que eu estivesse vendo”.
Confira a galeria de fotos em: https://www.festivaldeinvernodebonito.ms.gov.br/o-que-sinto-por-voce-cia-do-mato/
Karina Lima, Ascom FIB 2023
Fotos: Marithê do Céu