Para além de mergulhos em águas cristalinas, estar em Bonito é mergulhar em uma fonte de cultura ancestral. Na manhã desta quinta-feira (24), como parte das ações culturais destinadas às crianças no Festival de Inverno de Bonito 2023, a talentosa poetisa Fernanda Reverdito transportou os jovens de 6 a 11 anos da Escola Municipal João Alves de Arruda para uma jornada através do tempo.
A tataraneta do fundador da cidade, Luiz da Costa Leite Falcão, uniu memórias familiares que remontam aos dias em que Bonito ainda não tinha esse nome. Suas narrativas são mais do que simples contação de histórias: são apresentações lúdicas e poéticas enriquecidas com objetos e instrumentos musicais, revelando contos que nos transportam para os recantos distantes do antigo Rincão Bonito.
“A Casa da Memória Raída”, idealizada por Fernanda, é um tesouro cultural, dedicado ao resgate das raízes de Bonito e da Serra da Bodoquena. O espaço abriga um rico acervo cultural que homenageia os povos indígenas e celebra a pioneira jornada do antigo Rincão Bonito, que deu origem ao município. Além das paredes com fotografias históricas e relíquias, existe também uma biblioteca repleta de literatura regional. A casa é conhecida no Brasil todo como um ponto de memória, reconhecido pelo Instituto Brasileiro de Museus e certificado pelo Ministério da Cultura.
Rafael Willian Pereira, com seus 9 anos, ao escutar a contação de história, compartilha seu fascínio pelos relatos do Rincão Bonito e do antigo Mato Grosso, uma jornada que o conecta com as histórias de seus antepassados nesta terra. Após as histórias, Fernanda desafia as crianças a identificar quais são as etnias presentes em Bonito. Rafael, prontamente, ergue o braço e responde: Kadiwéu, Terena e Kinikinau.
“Eu já conhecia as etnias indígenas Terena e Kadiwéu por causa das minhas aulas de Artes. E os Kinikinau, eu conheço porque minha mãe é descendente de Kinikinau e eu também”, revela Rafael.
Ele também fala do seu gosto pelas lendas do Sinhozinho e da Serpente, recitadas por Fernanda, e já tem familiaridade pois são contadas por seu pai. No entanto, ele confessa que fica com medo, pois não sabe se essas histórias são reais ou falsas.
Fernanda Reverdito passou duas décadas reunindo memórias da história desta cidade, com um foco especial nos povos que deram origem a esta região: os Guaicurus, Kadiwéu e Terenas.
“Acredito que as crianças e todos os visitantes, precisam conhecer Bonito de uma outra forma. Que conheçam a natureza, se beneficiem das águas cristalinas, mas também mergulhem na história desta fantástica cidade. Acredito que assim a gente se aproxima mais da nossa cultura, história e quando a gente sabe mais da nossa história a gente se pertence e se enche de memórias”, enfatiza Fernanda.
Ela utiliza instrumentos indígenas, como o sonador, o pau de chuva, o som de pondo e um chocalho dos Andes. Além disso, ensina as crianças sobre a diversidade de cerâmicas e as significativas pinturas corporais e conta um pouco sobre a tradição pantaneira. Em Bonito, essa riqueza cultural se estende além das fronteiras, incorporando elementos das terras paraguaias.
Para encerrar a apresentação, que é uma verdadeira viagem no tempo, dona Ramona Vieira de Souza, 75 anos, mãe de Fernanda, toca o berrante e mostra para as crianças mais uma tradição local. Ela compartilha memórias de seus dias como ponteira no pantanal Nabileque, liderando a comitiva que conduzia o gado, tocando o berrante e indicando o caminho.
“Me sinto privilegiada por transmitir um pouco do conhecimento do pantanal e das tradições que vivencio desde os meus 20 anos de idade”, diz com orgulho.
Confira as fotos: https://www.festivaldeinvernodebonito.ms.gov.br/contacao-de-historia/
Bel Manvailer, Ascom FIB 2023
Fotos: Marithê do Céu