Campo Grande (MS) – Tira-se a venda dos olhos para perceber o outro. Que contém no seu nome, sua gênese imaginária e traços da ancestralidade que habita cada história genuína. Em solos que investigam a simbologia do belo e do feio de cada realidade e em conjuntos que impregnam-se da sonoridade do nosso lugar, o espetáculo “Poracê”, da companhia Dançurbana, celebra a vida, a natureza e a coletividade nativa, em sua sincronicidade com a dança. A cada apresentação o instrumentista Antônio Porto, cria uma paisagem sonora por meio do improviso musical de uma forma muito peculiar. O público poderá conferir a composição da dança, música e movimento no sábado (29/07), às 17h, na Praça da Liberdade.
O espetáculo
Durante sete meses, os três coreógrafos Marcos Mattos, Renata Leoni e Franciella Cavalheri – junto aos seis intérpretes-criadores Adailson Dagher, Ariane Nogueira, Lívia Lopes, Maura Menezes, Thiago Mendes e Rose Mendonça – mergulharam na produção de ‘Poracê’. O processo de criação de um novo espetáculo demanda pesquisa e muito estudo. Na primeira parte da concepção, por exemplo, os intérpretes foram estimulados a descobrir o significado, a origem de seus nomes.
São seis intérpretes-criadores de origens diferentes, de tribos diversas, cada um com seu modo de ser e de viver, sua história e sua individualidade, que fazem parte de um mesmo grupo, uma mesma comunidade, uma sociedade; e é sobre a forma como nós seres humanos vivemos em comunidade que esse espetáculo busca falar. “Essas diferenças dividindo o mesmo espaço. Como a sociedade se constitui? Constitui-se de pessoas diferentes, que são de tribos desiguais, que tem jeitos próprios de falar, sons distintos, entre outros”, diz a coreógrafa Franciella. Comunidade, força do conjunto, coletividade, o estar junto e, dentro disso, a singularidade da identidade, da ancestralidade, do ajuntamento e das tribos.
‘Poracê’, em Nheengatu, é designada como dança indígena de celebração ou baile. O trabalho é uma metáfora do significado dessa palavra. A companhia debruçou-se sobre “uma ideia de dança de índios” (uma fabulação), algo que já estava no imaginário dos criadores. O coreógrafo Marcos explica que a parturição da língua pesquisada e a sua sonoridade, provocaram os coreógrafos e os intérpretes-criadores na incursão no universo indígena, traçando um paralelo com a criação dos movimentos das danças urbanas (tão influenciados pela sonoridade das letras (rap) e das batidas das músicas da cultura Hip Hop).
“Pesquisamos a aproximação desses modos de compor dança, música e movimento, em diálogo com o contexto local”, completa Marcos. No palco, danças urbanas, dança contemporânea e técnicas de improvisação poderão ser vistas nos movimentos.