Bonito (MS) – Aconteceu na manhã deste domingo (29.07), no Espaço Madeiral, como parte da programação do 19º Festival de Inverno de Bonito, a exibição do filme “O Filho Eterno”, dirigido por Paulo Machline. O filme foi o tema para o debate realizado logo depois, sobre acessibilidade e inclusão social, mediado pela gestora da Fundação de Cultura de MS especializada em acessibilidade cultural e presidente do Conselho Estadual das Pessoas com Deficiência, Ivone Angela dos Santos. O filme e o debate foram traduzidos em Libras pela intérprete Mariana Oliveira.
O filme, baseado no livro de Cristóvão Tezza, narra a história do casal Roberto (Marcos Veras) e Cláudia (Débora Falabella), que aguarda ansiosamente pela chegada de seu primeiro bebê. Roberto, que é escritor, vê a chegada do filho com esperança e como um ponto de partida para uma mudança completa de vida. Mas toda a áurea de alegria dos pais é transformada em incerteza e medo com a descoberta de que Fabrício, o bebê, nasceu com a Síndrome de Down. A insatisfação e a vergonha tomam conta do pai, que terá de enfrentar muitos desafios para encontrar o verdadeiro significado da paternidade.
Após a exibição do filme, foi realizada uma roda de conversa com o público e os debatedores: Shirley Vilhalva, professora de Estudo de Libras e Língua Portuguesa como segunda língua para surdos, da UFMS, e pesquisadora sobre o índio surdo; Sueli Moreira Silveira, diretora da Associação Pestalozzi de Bonito; Maurício Loubet, professor de Libras e Educação Especial da UFMS, e Rita Luz, presidente da Comissão da OAB das Pessoas com Deficiência, Idosas e da Acessibilidade, com mediação de Ivone Angela dos Santos.
“Antes nós éramos tratados como pessoas doentes que necessitavam de cuidados médicos. As igrejas nos olhavam com uma certa piedade e tínhamos que nos ‘consertar’ para que pudéssemos ser incluídos na sociedade. Hoje somos vistos como pessoas e não como um ‘quase ninguém’. Começamos a ter um lugar na sociedade. A pessoa com deficiência não é a deficiência, ela tem uma deficiência, que é apenas um atributo, assim como ser magra, alta ou baixa”, diz Rita, que tem baixa visão (deficiência visual parcial).
Para Sueli Moreira, a realidade da pessoa com deficiência é tudo o que foi retratado no filme, e o apoio institucional é fundamental para auxiliar processo cidadão. “A autonomia que o deficiente físico tem hoje de estar galgando sua cidadania na sociedade é o mais importante, e as instituições estão aí para ajudar neste processo. É importante saber o que a pessoa com deficiência quer para ela, de se empoderar da sua própria vida. Ter deficiência não é só privilégio de quem nasceu com isso, qualquer pessoa pode ter a qualquer momento. A gente percebeu que a sociedade se deu conta de que precisa ser diferente”.
“O filme nos transmitiu uma série de acontecimentos de uma década distante da atual, 1982, para termos um elo comparativo do tanto que a sociedade evoluiu. Ninguém almeja ter um filho com deficiência, ninguém deseja isso. O pai se distanciou da família, buscou conforto nos braços de uma amante e não irradiou amor como a mãe. Era muito frequente a separação de pais com filhos com deficiência. Hoje estamos vivendo um momento inclusivo, por conta da militância dos grupos minoritários. A militância se ancora nas pesquisas e teorias para edificar o papel das pessoas com deficiência como sujeitos diferentes, mas com potencial”, pondera o professor Maurício Loubet.
A professora Shirley Villalva participa pela primeira vez do Festival e fala sobre a importância de dar oportunidade de manifestação para a pessoa com deficiência. “Temos que aproveitar estes eventos porque essa é a hora da acessibilidade do deficiente. Trabalho há 34 anos como professora e tenho lutado bastante. A gente poderia ter lotado este lugar, podíamos ter feito alguma coisa, mas não vamos deixar passar o 20º Festival de Bonito”.
A mediadora do debate, Ivone Angela dos Santos, disse que a cada ano busca-se uma forma de estar presente e promover o debate durante o Festival. “O Festival de Inverno de Bonito oferece acessibilidade física (rampas) e comunicacional (com tradução dos eventos em libras, braile e audiodescrição). A realização deste evento durante o Festival é para dar visibilidade para a causa das pessoas com deficiência. A sociedade ainda os vê como incapazes, isso é um empecilho para o seu protagonismo. Poucas chegam ao ensino superior por não receber apoio. Acessibilidade não é só para pessoas com deficiência, é para todos. A luta é de todos. Ano que vem conto com vocês para pensar as ações para o 20º Festival de Inverno de Bonito”.
Fotos: Aurélio Vinícius