O Lounge Literário do Festival de Inverno de Bonito (FIB) teve ocupação máxima na tarde deste sábado (27) com a discussão “História, Memória e Oralidade na Literatura Escrita Pelos Povos Indígenas”. Foram convidados para falar sobre os temas os escritores e ativistas Olívio Jekupé (PR) e Gleycielli Nonato (MS). A mediação foi realizada pela professora e cientista política Fabiane Medina da Faculdade Intercultural Indígena da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
Olívio Jekupé é guarani e vive na aldeia Kakane Porã, em Curitiba (PR). Estudou Filosofia na Universidade de São Paulo, é palestrante, presidente da Associação Núcleo dos Escritores e Artistas Indígenas (Nearin), um dos fundadores da Associação Guarani Nae’en Porã e uma das vozes indígenas mais conhecidas no país.
Já Gleycielli Nonato é indígena do povo Guató do Pantanal sul-mato-grossense, escritora, comunicadora e multiartista. Contadora de histórias e causos pantaneiros é também atriz e membro da Academia Brasileira de Letras, seccional Coxim.
Durante a conversa, que contou com a presença dos alunos do Ensino Médio da Escola Estadual Odete Ignez Resstel, que vieram de Nioaque especialmente para esse encontro, Gleycielli e Olívio conduziram um bate-papo bastante construtivo no qual falaram sobretudo sobre a importância de manter vivas as histórias e as oralidades de seus povos, para que não caiam no esquecimento. Abordaram ainda sobre o reconhecimento dos indígenas como indivíduos com saberes intelectuais e detentores de conhecimentos bastante plurais e que não devem ser apagados. “Quando comecei a escrever, na década de 1990, eu levava meus livros às editoras e levava respostas negativas porque eu não era um intelectual. Sendo assim, comecei a publicar de maneira independente. Hoje, já publiquei 24 livros”, revelou Jekupé.
Gleycielli aproveitou o encontro para contar também um pouco mais de suas memórias e sobre o povo Guató, que na década de 1960 chegou a ser dado como extinto.”Fomos exterminados ou absorvidos pela chegada de ocupantes no Pantanal. Mas nos reorganizamos e nos reinventamos”, contou. Ela ressaltou ainda que é urgente ouvir as pessoas mais velhas, os anciões das aldeias, pois eles são verdadeiras bibliotecas vivas. “Vem deles todo nosso conhecimento, nossa cultura, aquilo que vamos deixar para as próximas gerações. É fundamental registrar essas tradições orais, para que elas não se percam”, destacou.
Após a conversa, os escritores autografaram livros para os presentes. Gleycielli trouxe suas duas obras: Índia do Rio e Vila Pequena – Causos, Contos e Lorotas. Jekupé trouxe alguns dos seus mais recentes lançamentos como A mulher que virou Urutau e O presente de Jaxy Jatere – que têm edições bilíngues em português e guarani – e o quadrinho O Saci Verdadeiro.
A programação do 21º Festival de Inverno de Bonito continua e pode ser conferida aqui.
Assessoria FIB 2022
Texto: Evelise Couto
Fotos: Alvaro Herculano