Escritos no século XVII por mulheres francesas que tiveram seus nomes apagados da história, os contos de fada são revividos em cena com a apresentação “As Preciosas”, da companhia Grupo Casa. No palco, três das sete escritoras têm o papel de reparação histórica. Afinal, quem escreveu “Rapunzel”, famosa obra atribuída aos Irmãos Grimm, foi de fato a mademoiselle de La Force.
O espetáculo que estreou em março deste ano pela companhia Grupo Casa, de Campo Grande, começou a ser montado durante a pandemia, depois que a diretora de teatro Lígia Prieto conheceu a pesquisa de Susana Ventura, por meio do livro “Companhia de Bela”.
“A obra traz essas denúncias, este resgate, de que foram essas sete mulheres, uma delas ainda não se sabe o nome, é anônima, que escreveram os contos de fadas, e que depois foram conhecidas como ‘As Preciosas’”, explica Lígia.
À época, as mulheres eram vistas como “mercadoria” e que tinham a única finalidade de terminar a vida no altar. “Eram mulheres nobres, inclusive, e que se casaram com homens ricos. Eram cultas porque tinham um poder aquisitivo e com isso acesso aos livros”, acrescenta a diretora.
A escrita fora o refúgio delas, que usavam dos contos para fugir da realidade da vida que levavam. Foram elas, ‘as preciosas’, as primeiras a criarem heroínas mulheres nas histórias. Um dos trabalhos mais famosos destas mulheres leva justamente o nome dos Irmãos Grimm.
“A Rapunzel é na verdade da mademoiselle de La Force, uma mulher do século XVII que escreve e é uma história muito maior do que inclusive o que a gente conhece como sendo dos Irmãos Grimm”, aponta Lígia.
Ao saber que mulheres tiveram seus nomes apagados da história que elas mesmas escreveram, a diretora encarou a missão de fazer esta reparação no palco. O resultado pode ser visto na noite desta quinta-feira (24), na Caixa Cênica, durante o Festival de Inverno de Bonito de 2023.

Espetáculo do Grupo Casa traz à tona quem foram as preciosas, mulheres escritoras francesas do século XVII. (Foto: Bruno Rezende/Ascom FIB 2023)
A partir da pesquisa, Lígia cria três mulheres: Eva, Madalena e Lúcia, que não existem no livro, mas dão a vida às escritoras através de uma máquina do tempo.
A apresentação termina com aplausos e uma plateia ávida por cumprimentar as atrizes em cena. Ator, Arthur Paião de Moraes é de uma companhia de Palmas, no Tocantins, que veio se apresentar no festival e também aproveitar para conhecer o trabalho dos artistas sul-mato-grossenses.
“Eu também sou da literatura, deste ramo, e consegui pegar muitas referências do que foram esses apagamentos das mulheres. Foi muito interessante ver a forma como as mulheres foram tratadas em cena e a importância delas para a sociedade”, aponta Arthur.
Parceira de cena de Arthur, a atriz Anna Pacheco ressaltou a surpresa de ver no palco a potência feminina. “Não é só aquilo ‘girl power’, foi criada uma dramaturgia feminina que traz uma novidade. Eu não sabia que tinham mulheres que escreveram os contos que a gente conhece hoje, mas foram nomeados por homens, e que são figuras potentes da literatura, a peça é necessária”, define.

Diretora do grupo, Lígia Prieto resume peça como reparação histórica. (Foto: Bruno Rezende/Ascom FIB 2023)
Confira as fotos: https://www.festivaldeinvernodebonito.ms.gov.br/teatro-as-preciosas/
Paula Maciulevícius, Ascom FIB 2023
Fotos: Bruno Rezende