Gilberto Gil, Daniela Mercury, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Novos Baianos, Margareth Menezes, Raul Seixas, Pitty, Tom Zé e Carlinhos Brown são apenas alguns artistas baianos que fazem, ou fizeram, do palco um espaço para experimentação musical e para transmitir suas ideias e pensamentos críticos sobre a sociedade. E nesse universo de sonoridade e manifestação artística que a Bahia proporciona todos os dias ao público brasileiro nasceu BaianaSystem.
Apesar de sua fundação em 2009, foi apenas sete anos depois que eles se destacaram no cenário nacional com o lançamento do álbum “Duas Cidades”, um quebra-cabeça sonoro que apresenta uma miscelânea de ritmos, que vão desde do samba ao reggae, passando pelo frevo, ijexá, hip-hop, arrocha.
Em celebração aos dez anos da banda, em 2019 Baiana lançou o disco “O Futuro Não Demora”, que conecta um tom político-sonoro ao da esperança pela mudança do comportamento humano. E foi essa união entre ato político e fé na humanidade que as mais de cinco mil pessoas que marcaram presença no Palco das Águas para a segunda noite do XX Festival de Inverno de Bonito puderam conferir em um pouco mais de uma hora de espetáculo musical e visual.
Segundo o vocalista do grupo, Russo Passapusso, a diversidade presente na construção da identidade do BaianaSystem é formada pela interação musical com os sons da natureza, com público presente e por locais onde os músicos possam em uma harmonia transcender o espaço destinado à apresentação e levar de forma harmônica suas mensagens e som. “A gente tem todos esses traços dentro da gente. E tem que exaltar isso. O Baiana veio com essa bandeira já inerente dentro da gente” disse.
Em sua primeira apresentação em Mato Grosso do Sul, os baianos fizeram também questão de entoar canções do álbum “Duas Cidades”. “Lucro”, “Calamatraca” e a homônima ao disco foram interpretadas.
Antes da entrada do BaianaSystem no Palco das Águas, a cantora de Dourados Fernanda Ebling apresentou ao público do XX Festival de Inverno de Bonito o seu show “Coloral”. Montada a partir de músicas autorais, Fernanda também foi inventiva. Uniu o maracatu, o samba, o rock, a polca, entre outros ritmos.
Karina Buhr e Duêpa
Logo após as apresentações de Fernanda Ebling e BainaSystem no Palco das Águas, as pessoas presentes no festival se deslocaram para a lona artística montada no Centro de Múltiplo Uso de Bonito (CMU) para conferir mais dois shows.
Entre eles, Karina Buhr. Baiana radicada em Pernambuco, ela trouxe para Bonito a expressão do corpo e da música. Em meio a letras agressivas, intimistas, políticas e direcionadas em sua maioria para temática feminista, houve uma artista performática que não se negou a tocar em feridas da sociedade brasileira, como a violência diária contra a mulher.
O tom político de suas músicas é conhecido. Militante pelo direito igualitário da mulher, a pernambucana demonstra que sua apresentação cultural transpassa as canções e torna-se um ato cívico de quem está de peito aberto para combater a brutalidade do feminicídio e ao mesmo tempo exalta a mulher e discursa para que ela se empodere.
Conforme a cantora, ela “solta os cachorros nas letras” como forma de expor a realidade da tragédia enquanto buscar enaltecer suas iguais.
O rito musical de Karina Buhr contou com uma mistura dos quatro discos lançados pela artista, inclusive “Desmanche”, lançado nesta semana em todas as plataformas digitais. “Eu Menti Pra Você”, do álbum homônimo e primeiro de sua carreira solo, “Não Me Ante Tanto”, do “Longe de Onde” e “Esôfago”, do “Selvática”, que narra a história de um feminicídio e como a sociedade naturaliza e romantiza esses crimes, foram entoados em corro pelo público.
Mas antes da pernambucana subir ao palco, os djs do Duêpa aqueceram o público. Aruan e Goiaba em meio a brasilidade das músicas tocadas utilizaram o espaço para transmitir a mensagem de preservação do meio ambiente.
Autor: Daniel Campos
Fotógrafo: Fernando Antunes