Bonito (MS) – A maioria das pessoas sempre pensa no encaminhamento sustentável do lixo apenas como uma necessidade ambiental. Mas a palestra com o engenheiro civil Rodrigo Sabatini, presidente do Instituto Lixo Zero, na tarde desta sexta-feira (27.07), no hotel Marruá, demonstrou que é uma questão de inteligência e também um bom negócio em termos financeiros.
A proposta de Rodrigo é que cada um cuide do seu próprio lixo orgânico, com a compostagem, e o restante, vidro, papel, plástico, seja separado e encaminhado para reciclagem. “Lixo zero é uma meta que é ética, econômica, eficiente e visionária, para orientar as pessoas a mudar seus estilos de vida e práticas para emular ciclos naturais sustentáveis, onde todos os materiais descartados são projetados para se tornar recursos para outros usarem. Lixo Zero significa concepção e gestão de produtos e processos para evitar sistematicamente e eliminar o volume e toxicidade dos resíduos e materiais, conservar e recuperar todos os recursos e não queimar ou enterrá-los. Implementação do Lixo Zero irá eliminar todas as descartas à terra, água ou ar que são uma ameaça planetária, humana, animal ou vegeta”, explica.
Em Florianópolis, sede do Instituto, o Lixo Zero foi implantado a partir da 7ª Conferência Internacional, que provocou uma revolução na cidade. Atualmente existe um decreto que vai possibilitar que a cidade seja Lixo Zero até 2030. “A gente tem começado com um acordo social que envolve a sociedade inteira. O Lixo Zero deve ser um anseio da população. É um caminho virtuoso da economia circular. A sociedade tem que fazer a opção”.
Rodrigo disse que a partir de 1º de agosto termina o poder regenerativo da Terra neste ano. A partir daí o planeta vai buscar sua reserva, como se estivesse usando uma poupança. “Por isso precisamos pesar no que estamos fazendo com relação ao consumo. Temos que cuidar de nós e saber de onde vem as coisas, para onde vai o nosso lixo. Gasta-se muito com triagem, com a manutenção dos lixões, o que não é nem inteligente do ponto de vista econômico e nem ecológico. Isso tem um custo social, ambiental e ético. O lixo é um mercado de urgência, temos que fazer alguma coisa”.
A proposta é não mais descartar, e sim encaminhar. “Vocês têm que ter consciência do caminho para fazer isso. Vocês moram num lugar turístico. Numa cidade industrial isto seria mais difícil. Se vocês não cuidarem disso não vai ter mais turismo na sua cidade. Nós vamos acabar pescando plástico e ter que separar os peixes do plástico”.
Presente na palestra, o secretário de Meio Ambiente de Bonito, Alexandre Ferro, disse que a cidade está passando por grandes mudanças a respeito do tratamento do lixo. Atualmente o resíduo da saúde, que era tratado junto com resíduos comuns, está sendo coletado por uma empresa pelo custo de 5 mil reais; as 22 toneladas de osso produzido são coletadas e transformadas em varinha para alimentação de cães. “Os tratadores não entram mais no lixão e temos hoje um índice de 3% de reciclagem. O lixão vai encerrar suas atividades dentro de 90 dias. Agradeço por sua presença aqui, sua palestra é fundamental e vai melhorar muito a qualidade de vida dos bonitenses. Conto com sua ajuda em consultorias futuras”.
O secretário de Estado de Cultura e Cidadania, Athayde Nery, encerrou a palestra explicando que o Festival de Inverno de Bonito tem esse caráter de cidadania cultural. “Vamos ter que trazer a cultura do Lixo Zero para Mato Grosso do Sul. A cidadania cultural tem esse lance do respeito e da paz. Você, Rodrigo, traz todos esses elementos. É o reconhecimento prático de uma ação, que acaba salvaguardando a democracia. Bonito, este espetáculo da natureza, que durante o Festival acaba sendo a capital da cultura, é uma das maiores referências em turismo do país. Se implantarmos o Lixo Zero aqui, seremos também referência em cuidado com o lixo e a preservação. O correto encaminhamento do lixo é uma solução para a crise, muda a qualidade de vida e tira as pessoas da miséria”.
Fotos: Aurélio Vinícius e Álvaro Herculano