Uma máquina de sete metros de altura por seis de comprimento, construída ao longo de três anos, chama a atenção de todos que passeiam pela Praça da Liberdade. A geringonça é o cenário, mas também uma personagem central de “Automákina – Universo Deslizante”, da Cia. De Pernas pro Ar. Nela, Duque Hosain’g, interpretado por Luciano Wieser, busca meios para sobreviver em um mundo aparentemente solitário, enquanto seu DNA se mistura com sua criação mecânica. A peça foi encenada ontem na Praça da Liberdade, como parte da programação do 19º Festival de Inverno de Bonito.
O espetáculo tem direção de Jackson Zambelli, que assina a dramaturgia ao lado de Luciano. Sem palavras, a história é contada por meio dos sons e gestos. A máquina ocupa um papel central na construção dramatúrgica, com seus bonecos autômatos, instrumentos musicais, sirenes e outros recursos. O processo de construção, inclusive, fez parte do processo criativo de “Automákina”. “Passei três anos vivendo a experiência de criar esse objeto cênico. No processo, o personagem ganhou forma e a relação com sua criação foi a força motriz da obra”, comenta Luciano, um dos fundadores da companhia.
Sobre o enredo, há pouco a ser dito. Como afirma Luciano, a ideia é que cada espectador crie sua própria narrativa a partir do que vê. Para tanto, muito pouco é oferecido além da própria cena. Como não há texto, a liberdade interpretativa se acentua. Mas alguns chaves ficam bastante claras, como a necessidade de aprender a se lançar no mundo e sair do próprio universo. Nesse sentido, a máquina se transforma em uma metáfora sobre a importância de aprender a
“Automákina – Universo Deslizante” é uma criação da companhia De Pernas pro Ar, vinda de Canoas, Rio Grande do Sul. Desde 1988, o grupo tem realizado
um trabalho contínuo com pesquisas em artes cênicas, com foco no teatro de rua e no teatro de formas animadas e circo. Já circulou por quase todo o País e foi selecionada para o Palco Giratório em 2015. É uma trupe familiar, criada por Luciano e Raquel Durigon, que também é produtora. O amor pela arte conquistou os filhos do casal. Em seus 30 anos de atuação, a companhia criou mais de 20 espetáculos, além de 50 bonecos únicos.
Texto Thiago Andrade
Fotos André Patroni