O Teatro Imaginário Maracangalha trouxe para o Festival de Inverno de Bonito 2023, no último sábado (26), um espetáculo de rua com vídeo mapping – percorrendo toda a Praça da Liberdade. O público acompanhou os atores enquanto eles percorriam vários lugares da praça.
A peça destaca o Trem do Pantanal, uma parte da história frequentemente romantizada, mas cujo desfecho após a privatização deixou um rastro de consequências profundas. O patrimônio público foi negligenciado, prédios históricos desmoronaram, as pessoas enfrentaram desemprego e, em casos trágicos, até mesmo o suicídio. O impacto econômico e humano dessa transformação foi avassalador, especialmente nas comunidades que perderam sua força de trabalho.
Gerson Canhete Jara, 57, assessor de imprensa, emocionado, compartilha suas lembranças enquanto observava o teatro dos ferroviários. Ele recordou sua infância com saudade, principalmente das viagens que fazia com seu pai a Aquidauana e Miranda. “Aqueles passeios de trem eram fenomenais para nós, crianças, tinha o picolé de Itu, eram imensos, e carne de peixe vendida pelo pessoal ribeirinho da ferrovia. Eu cresci dentro da ferrovia, onde meus pais tinham raízes”, explicou.
Gerson Jara também destacou como, durante a adolescência, ele e seus amigos organizavam grupos para passar feriados e carnavais em Piraputanga, viajando de trem. “Isso foi uma parte importante da minha vida jovem”, enfatizou.
Mesmo quando a parada em Piraputanga e outras cidades foi proibida, eles conseguiam convencer o gerente de tráfego a reduzir a velocidade do trem para que pudessem pular e acampar em Piraputanga.
Fernando Cruz, 60, ator e diretor do Teatro Imaginário Maracangalha, apresenta um trabalho com base documental que lança luz às histórias até então não contadas. O teatro apresentado visa resgatar memórias reais, focando especialmente nas experiências dos trabalhadores da Noroeste do Brasil. A base para construção do teatro é feita por documentação, postagens jornalísticas e memória oral da comunidade de trabalhadores da antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.
“Esse acúmulo de referência, narrativas e documentos são transformados em fala através dos atores. Então, na verdade, não é a nossa fala, é a fala das pessoas. A ideia é chamar a atenção de que tudo é documento, a nossa narrativa oral, a atenção que tem que ser dada ao que é escrito, ao que é publicado, para estimular o questionamento, o que está e como está acontecendo. E também o que aconteceu para que essa história não se repita”, frisa.
O enfoque do trabalho teatral é dar voz aos trabalhadores, destacando as mudanças significativas que ocorreram em suas vidas devido à privatização, especulação imobiliária e interesses comerciais. A peça baseia-se em narrativas reais coletadas ao longo de seis anos.
Durante esse período, trabalhadores do Noroeste do Brasil e mulheres das comunidades foram entrevistados para fornecer perspectivas variadas sobre essa parte importante da história regional.
O trem, que antes foi um símbolo central na vida das pessoas, agora é uma lembrança nas mentes daqueles que viveram essa época.
Confira as fotos: https://www.festivaldeinvernodebonito.ms.gov.br/miragens-do-asfalto/
Bel Manvailer, Ascom FIB 2023
Fotos: Marithê do Céu