Terminou em uma confusão divertida fora do script, arrancando gargalhadas da plateia, o espetáculo circense Yoyo, realizado no Palco das Artes Cênicas, no segundo dia do 21º Festival de Inverno de Bonito. Dezenas de crianças, que já haviam participado da apresentação anterior – Brincos e Folias, da Companhia Balangandança, de São Paulo – entenderam que a brincadeira continuava e invadiram o palco e se ocuparam dos objetos da cenografia.
Foi um corre-corre, com intervenção da produção e da Guarda Municipal, e logo a situação se acalmou e o protagonista do espetáculo, o argentino Sebastian Godoy, conseguiu chegar aos camarins e relaxar por alguns minutos depois do sufoco. “Foi maravilhoso”, conseguiu falar o artista, demonstrando cansaço, depois de ser cercado pela criançada, que se apoderou dos cilindros com jato de água que Sebastian jogava na plateia, ao final de sua apresentação.
Com a mesma interatividade de “Brincos e Folias”, o show do argentino surpreendeu desde seu início, quando duas crianças subiram ao palco para dançar com Sebastian. Foi a “abertura” para as demais que se concentravam ao lado do palco se sentirem dentro do espetáculo. E à medida que o show seguia e o artista fazia suas estrepolias, envolvendo o público, as crianças assumiram seu papel imaginário e encerraram a apresentação sem a despedida de Sebastian.
Jogos e sonhos
O final, mesmo fora o contexto, não poderia ser outro: o argentino faz um personagem excêntrico e sua mala, se metendo em confusão a cada três passos, e, sem querer, dando seu golpe de mestre para que nunca se esqueçam da experiência de ter se sentido criança dentro de cada um, brincando apenas pela alegria e prazer de brincar. O show é uma aventura sobre o ser humano, as profundezas do eu, do compositor que todos tem dentro de si.
“O show começa em 5 minutos”. Com essa frase que se repete ao longo do show
Sebastian Godoy, com um baú cheio de jogos e sonhos, tenta manter a atenção dos espectadores até que o espetáculo “começa”, demonstrando toda a sua habilidade sobre patins e expressões corporais com abordagem e linguagem de palhaço. E usando elementos, como bambolês e bola, aguça a curiosidade das crianças, resultando no grande final.
Com estilo essencialmente de rua, o artista argentino realiza atualmente uma temporada no Brasil, tendo se apresentado no Festival Internacional do Circo do Ceará, em julho, e em Dourados. Com o mesmo espetáculo, já se apresentou também em inúmeros países latinos e europeus. Em 2010 foi selecionado pelo Cirque du Soleil, onde fez parte do show “Crystal” e em 2018 fez parte do elenco do espetáculo “O homem que perdeu a sombra” no Teatro Cervantes.
Texto: Silvio Andrade
Foto: Marithê do Céu